
Sentada na varanda, fumando cigarros que pareciam se multiplicar dentro do maço,
contemplava o medo da minha mais nova percepção.
Há coisas que sabemos, mas elas apenas tornam-se verdade quando sentidas.
Sabemos que um tapa dói, mas esse saber apenas se torna real quando alguém nos esbofeteia a face.
É assim as coisas que nos regem, sabemos todas elas falsas mas só se tornam realmente mintiras quando nossas mentes soltam as mãos da ignorância.
A moral, as leis, os costumes, nada mais são que espasmos de insanidade, um desespero de prender o que não se pode controlar, a loucura organizada.
Tudo que foi inventado é falso.
Até então era brando meu desespero, lembrei-me que o amor não era uma invenção, afinal, o sexo não é um conceito, é um instinto.
O amor seria a evolução desse instinto e como prova o sexo com alguém que se ama é incomparável ao sexo com alguém não amado.
Porém, logo me lembrei, e ai deu-se por completa minha tristeza, que a dor, quando nos concentramos nela é muito maior do que quando a ignoramos.
Conclui, então, que as sensações são administradas por nosso cerébro conforme conveniente, conforme ensinado.
Desisti de continuar me indagando, descontente com as resposta.
Entretanto, parecia incontrolável as dúvidas se procriando na minha cabeça.
É tão deliciosa a Mintira,
como podemos nos sentir estúpidos ou culpados por acreditar nela?
Se nossa crença dá realidade ao falso que a Verdade tem com isso?
Será que poderia a ignorância à essa altura de minhas blasfêmias me perdoar e segurar novamente minhas mãos?
Ou será que ficarei o resto da noite buscando no fundo das minhas entranhas mintiras que justifiquem mintiras, que fundamentem mintiras , que criem mintiras, que produzem mintiras na tentativa de encontrar a verdade?
E caso encontre, que prova terei que eu mesma não criei todo esse discurso para inventá-la ao meu modo, ¨puxando a sardinha¨ para os meus dogmas?
Meu palpite ainda imaturo é que verdade são fatos ou o que se pode sentir com todos os sentidos, onde um não nega o outro.
Nathalia de Holanda trincou o braço com dez anos de idade.
A merda tem cheiro de merda;
som de merda;
gosto de merda (não, não é preciso comer merda pra saber isso);
aparência de merda e consistência de merda.
O braço trincado de Nathalia de Holanda e a merda de qualquer ser vivo são uma verdade maior que as leis da Constituição Federal.
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Dorme Nathalia, dorme ... são 2:48 da manhã.